Desafio chama empresas, governos locais e cidadãos a conservar e a restaurar a terra
Como parte da Cúpula Global sobre Ação Climática, o WWF, juntamente com uma ampla coalizão de parceiros, lançou nesta segunda—feira, 11 de junho, o Desafio Florestas, Alimentação e Terra 30X30: convocando empresas, estados, prefeituras e cidadãos de todo o mundo a agirem para melhorar a conservação de florestas e habitats, produção e consumo de alimentos e uso da terra. Trabalhando juntos em todos os setores da economia, é possível fornecer até 30% das soluções climáticas necessárias até 2030.
Sediada em San Francisco de 12 a 14 de setembro, a Cúpula reunirá milhares de pessoas de todo o mundo para levar a um próximo nível a luta contra as mudanças do clima. Será um momento para reconhecer as grandes conquistas de estados, regiões, cidades, empresas, investidores e cidadãos que estão tomando medidas a favor do clima e para catalisar novos compromissos e ações arrojados.
Coletivamente, o sistema alimentar global, o manejo florestal insustentável, o desenvolvimento de infraestrutura e outras atividades relacionadas ao uso da terra são os principais impulsionadores da mudança climática global, respondendo por mais emissões de gases do efeito estufa do que as emissões totais de todos os carros, caminhões, trens, aviões e navios no mundo. Florestas, pastagens e outros habitats retiram carbono da atmosfera, mas quando são desmatados liberam carbono e sua capacidade de reabsorção diminui. No solo e em ecossistemas saudáveis, o carbono é um bloco de construção da vida; na atmosfera, aquece o planeta.

No solo e em ecossistemas saudáveis, o carbono é um bloco de construção da vida; na atmosfera, aquece o planeta
Foto: © Global Warming Images / WWF
“Para conter a mudança climática, devemos abordar a segunda maior fonte de emissões: o uso da terra”, disse Manuel Pulgar Vidal, líder global da Prática de Clima e Energia do WWF. “Ao tomar medidas concretas, empresas e líderes locais também podem incentivar os governos nacionais a reduzirem mais agressivamente as emissões de carbono usando todos os recursos disponíveis, incluindo árvores, gramíneas e solo”.
O governador da Califórnia, Edmund G. Brown Jr., co-presidente da Cúpula, recentemente sublinhou as ações que a Califórnia está tomando para lidar com as perdas florestais. As florestas servem como o maior sumidouro de carbono terrestre do estado, atraindo carbono da atmosfera, mas até mesmo um único incêndio florestal pode minar rapidamente esses benefícios.
“Os devastadores incêndios florestais são um profundo desafio para a Califórnia”, disse recentemente o governador Brown ao emitir uma ordem executiva abrangente para aumentar a capacidade das florestas de capturar carbono. “Pretendo mobilizar os recursos do estado para proteger nossas florestas e garantir que elas absorvam carbono ao máximo”.
“A mudança climática já está afetando e desestabilizando nossos sistemas globais de alimentos e agricultura”, disse Paul Polman, CEO da Unilever. “Ao eliminar a perda de habitat e a degradação de nossas cadeias de fornecimento, podemos evitar a emissão de bilhões de toneladas de gases de efeito estufa. Empresas como a nossa têm uma responsabilidade e uma oportunidade de ajudar as nações do mundo a atingir e superar as metas do Acordo de Paris ”.
Empresas, órgãos estaduais e locais, organizações multilaterais, cientistas e outras partes interessadas podem enfrentar esse desafio adotando medidas concretas buscando:
- Reduzir pela metade a perda e o desperdício de alimentos e consumir conscientemente.
- Capturar uma gigatonelada de carbono por ano em florestas e em outros ambientes naturais e de lavoura.
- Permitir uma melhor produção de alimentos e fibras, desbloqueando financiamento, fornecendo ferramentas para aumentar a transparência, fomentar a colaboração público-privada e proteger os direitos locais.
Como os povos indígenas e as comunidades locais estão entre os guardiões mais efetivos dos habitats naturais e os mais diretamente prejudicados pela perda e degradação de florestas e cursos d’água, envolver e proteger esses grupos e seus direitos de posse serão essenciais para o cumprimento do Desafio 30X30.
“Dadas as grandes, mas não reconhecidas, contribuições dos povos indígenas pela proteção de imensas áreas das florestas do mundo, estamos no centro da solução climática”, disse Cándido Mezua, líder indígena da tribo Embera do Panamá e secretário de Relações Internacionais da Aliança Mesoamericana de Povos e Florestas (AMPB). “Os governos e o setor privado devem abraçar nossa abordagem para o desenvolvimento sustentável, colaborar conosco no planejamento e nos permitir compartilhar a prosperidade que resulta.”
O uso da terra no Brasil
No Brasil, as emissões geradas por mudanças no uso do solo e agropecuária geraram, juntas, mais de 1,5 giga tonelada de CO2equivalente em 2016 (dados do SEEG-Brasil, do Observatório do Clima). A maior parte dessas emissões ainda vem do desmatamento, que, apesar ter caído a partir de 2008, voltou a crescer nos últimos anos.
Porém, de acordo com o coordenador do Programa Agricultura e Alimentos do WWF-Brasil, Edegar Rosa, a recuperação de pastagens e o fim do desmatamento (previstos nas metas brasileiras do Acordo de Paris) aliados à contenção do desmatamento e a um melhor aproveitamento das áreas já abertas, podem trazer grandes oportunidades para o Brasil, com aumento da produção e de renda aliada a uma diminuição das emissões de gases de efeito estufa.
De acordo com a NDC brasileira, o país tem o compromisso e desafio de restaurar 12 milhões de hectares de florestas e 15 milhões de hectares de pastagens degradadas até 2030.
“O Brasil tem a oportunidade de produzir mais e ainda contribuir para conter o aquecimento do planeta. Só o aumento de produtividade da pecuária brasileira pode liberar 36 milhões de ha para outros usos, incluindo a produção de alimentos, sem a necessidade de desmatamento de áreas nativas. Para tanto, é fundamental aplicar e aperfeiçoar os mecanismos existentes de controle do desmatamento, como a implantação Código Florestal e os Zoneamentos Agroecológicos, além de reforçar compromissos setoriais e voluntários de desmatamento zero”, comenta Edegar Rosa.
Destaque: © WWF-Brasil / Simon Rowles
Fonte: WWF-Brasil